quinta-feira, 12 de abril de 2012

PINTURA RUPESTRE

A arte na pré-história e as primeiras formas de comunicação

Uma das primeiras formas que o ser humano encontrou para deixar seus vestígios foi a pintura. A arte rupestre consistiu na maneira utilizada para se ilustrar sonhos e cenas do cotidiano. Símbolos da vida, da morte, de céu e da terra foram encontrados nas paredes cálidas das cavernas.
Pintura Rupestre
A aguda sensibilidade do homem (sentimento de suma importância para o desenvolvimento da arquitetura e escultura), levou-o a pintar. Muitos dizem que os antigos pintavam por fome, teorias mais recentes asseguram que o faziam por uma "predeterminação sexual". É sabido que a tela primordial em que nossos parentes longínquos plasmaram suas idéias pictórica foi a rocha pura. As cores deviam ser aplicadas com aglutinantes para assegurar a aderência. Das cavernas francocantrábicas (Altamira, Lascaux - imagem a esquerda) às levantinas (Cogul) resulta uma evidente transição técnico-estilística: do realismo estático ao dinâmico, primeiro, e depois à uma acentuada estilização. A temática é comum: animais e cenas de caça e dança, as primeiras; homens e cenas várias, as segundas.
Um grande acervo de arte rupestre na América Latina é La Cueva de Las Manos, na Argentina. Nesta caverna encontram-se centenas de gravações de mãos além de ricas gravuras multicoloridas. Já no Brasil, temos a Serra da Capivara, no Piauí. Lá os primeiros habitantes das Américas trataram de deixar seus vestígios na rocha.
É uma verdadeira galeria de arte rupestre que se confunde com a beleza natural das cavernas locais. Observando a pintura, podemos notar cenas que ilustram a vida pré-histórica, caçadas, ritos religiosos, sexo, enfim...

A natureza do registro rupestre

Considerações extraídas do trabalho de pesquisa (A questão da teoria semiótica da interpretação da arte rupestre) executado por Carlos Xavier de Azevedo Netto, pesquisador do Instituto Superior de Cultura Brasileira (ISCB) e professor da UNESA.
O registro rupestre é uma das facetas com que o arqueólogo se depara no decorrer de suas atividades, sendo aquela que implica em maior subjetividade nas diferentes tentativas de análise e interpretação deste fenômeno. O que o debate sobre arte rupestre parece deixar claro é a nova visão que se tem sobre estas manifestações, não mais como um fenômeno específico e isolado dos demais componentes do registro arqueológico, mas sim como um integrante, importante, desse mesmo registro. Além disso parece começar a surgir um consenso de que estas manifestações estão imbuídas de uma intenção, e esta intenção é de comunicação. Então a arte rupestre é uma manifestação comunicativa.
Mas atualmente, embora mantida pela tradição, a própria expressão "arte rupestre" vem sendo questionada, na medida em que muitos pesquisadores acham que as manifestações rupestres estariam fora da esfera artística, e mesmo se pertencer a esta esfera estaria fora de qualquer análise científica.
Este posicionamento denota uma certa confusão quanto ao caráter de comunicabilidade que este fenômeno possui, já que há uma tendência de se ver a arte rupestre, enquanto comunicação, como uma forma de linguagem, passível de ser analisada e compreendida pelo parâmetro da lingüística, o que leva à um grande desvio quanto à natureza desse registro do passado, ainda apegado à postulações de Leroi-Gourhan (1983/85).
Aceitando-se estas expressões como gráfico-icônicas, de cunho comunicativo, não se pode deixar de notar, que as mesmas não estão ordenadas, organizadas ou mesmo pensadas, como uma linguagem estruturada, e até uma pré-linguagem. Estas expressões não estão inscritas no mesmo universo das línguas, mas são compostas por arranjos completamente diferentes daqueles que encontra-se nas diversas formas lingüísticas em qualquer tempo. (...)
Então a arte rupestre seria uma criação artística, não relacionada com o conceito, ou conceitos, que se tem da arte ocidental.
Estas formas estéticas teriam como caráter fundamental exprimir alguma forma de comunicação, sendo que o repertório, definido por Coelho Netto (1989:123), e de acordo com a teoria exposta por Bense (1975), dos grupos que produziriam esta arte seria mais limitado do que aquele que as culturas mais modernas possuiriam, já que para haver este potencial de comunicabilidade, a forma de expressão desse indivíduo, em particular, teria que ser estendida pelos demais membros de seu grupo, admitindo-se que a produção e o entendimento dos signos que compõe os painéis, pode, por vezes, apresentar algumas modificações, derivadas ora da interpretação de seu executor, ora da própria dinâmica cultural do grupo a que pertence. (...)
Pintura Rupestre
Por fim, observa-se que a natureza do fenômeno arte rupestre, é em si mesma, a natureza de uma expressão artística, independente do conhecimento, ou não, do significado ou intenção, deste ato criativo. Caso seja necessário uma maior especificidade na conceituação do caráter de arte deste tipo de manifestação, pode-se entendê-la a partir do conceito de arte étnica, definido por Ribeiro (1986), no qual estabelece um diferenciação entre o que seria e esfera estética e a esfera funcional da cultura material, e como estes elementos estéticos estariam arranjados e compreendidos dentro de suas comunidades.
Então a arte rupestre seria uma expressão estética de grupos pré-históricos, os quais produziram e manipularam um conjunto de signos, formando um repertório, que seria entendido pelo restante do grupo. Isto não quer fazer crer no esquecimento da esfera individual na criação artística, mas esta mesma criação estaria contida dentro do repertório de signos disponíveis para tal veículo de expressão, fato, aliás, que ocorre em vários outros contextos artísticos.
Este conjunto de colocações vai fornecer uma compreensão do conceito de arte a ser aplicado às manifestações rupestres, com as noções de modelo reduzido e repertório fundindo-se. E passando a entender a arte rupestre como um modelo reduzido, com um repertório específico e comum à cultura produtora, afirmando assim o caráter comunicante deste sistema simbólico, que atenderia os parâmetros estéticos e simbólicos de determinada cultura. Então, a arte rupestre seria aquele conjunto de expressões estético-simbólicas, inseridas em determinada cultura, que a reconhecia.

Fonte: www.itaucultural.org.br

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